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Prefeito Crivella, seu ódio e ignorância não vão nos censurar

  • Foto do escritor: Pedro Lacerda
    Pedro Lacerda
  • 6 de set. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de nov. de 2020


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Ao final do sétimo dia da Bienal Internacional do Livro Rio de 2019, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, lançou em suas redes sociais um vídeo condenando a venda da revista em quadrinhos Vingadores: A Cruzada das Crianças de Allan Heinberg e Jim Cheung , que segundo ele, traria propagando homossexual e conteúdo sexual para crianças. No mesmo vídeo, o prefeito disse que a HQ deveria ser vendida embalada em plástico preto e informou que agentes da prefeitura iriam recolher o material, ameaçando cassar a licença do evento que acontece no Riocentro.


Isso não passa de censura, é censura contra todo um grupo de pessoas que possuem os mesmos direitos de existir e serem vistos quanto qualquer outro. A esse ponto, nenhum carioca se surpreende com os ataques homofóbicos e preconceituosos do prefeito, que se elegeu agarrado na base da incitação do ódio e preconceito contra tudo que não se encaixasse com a visão limitada e opressora da base evangélica do governo.


E infelizmente, não é a primeira vez nessa semana. Na terça-feira (03/09), a Câmara de Vereadores de Porto Alegre mandou encerrar uma exposição de charges e caricaturas que acontecia na entrada do plenário. As obras abordavam a suposta independência do Brasil, enquanto debaixo do dedo dos Estados Unidos e a obsessão do presidente Jair Bolsonaro com o presidente norte-americano, Donald Trump.


Depois de falar um pouco sobre o ocorrido no Facebook, passei o dia seguinte pensando se deveria escrever mais sobre o assunto, se deveria vir aqui e contar a trama da HQ, mas a HQ não precisa ser justificada ou protegida. Não existe, como alguns dos nossos governantes gostam de gritar, uma propaganda homossexual ou de ideologia de gênero. O que existe é uma luta constante e antiga por respeito, aceitação, e não só por nós já adultos, mas justamente pelas crianças e jovens que ainda vivem sendo ditos que são errados por serem quem são.


O único exemplo que posso compartilhar é o meu, que com 13 anos tive a minha primeira experiência gostando de outro garoto, mas ao invés de viver aquele sentimento lindo, eu procurava desculpas do porque eu não era gay — quanto mais imaginar que bissexualismo era algo possível ou aceitável. Eu, como outras pessoas, cresci ouvindo que era errado ser gay, que me faria menos do que as “pessoas normais’’. Nem tudo era ódio, alguns parentes falavam por medo de ver alguém próximo sofrer com o mundo preconceituoso, mas muitos tinham raiva e nojo. E lá se foram anos até que com 21 anos eu comecei a entender que não havia nada de errado comigo, que eu não era menos do que ninguém e merecia me ver e ser visto, tanto nas ruas quanto na TV e outras obras de entretenimento e cultura.


Os nossos líderes tentam dizer que é errado ser algo além de cristão, heterossexual, e se você não for homem e branco, por favor, mantenha-se no seu lugar. Segundo nosso presidente, ele respeita a todos, mas só o que ele pensa é o correto e os outros que se escondam e mascarem suas vidas. As nossas florestas queimam, as escolas caem aos pedaços e os hospitais parados porque os médicos não têm dinheiro para comer, sequer para chegar no trabalho, e mesmo se chegarem não é como se fossem encontrar remédios. Porém, ainda o errado é alguém saber que é homem, mulher ou neutro independente daquilo que diz em um pedaço de papel assinado e carimbado enquanto a gente ainda tentava respirar direito. Errado é amar alguém que carrega o mesmo gênero do que eu. O certo é que crianças cresçam negando a si mesmas, com medo do mundo porque tudo que existe dentro delas está errado. Não, senhores prefeito, governador e presidente. Olhem a sua volta, não é mais uma população que apanha e depois tenta ser suportado, agora quando apanhamos, nós batemos de volta. Não é um pedido de aceitação, é um informe de que vocês vão ter que nos aceitar e respeitar, que não é aceitável que nenhuma pessoa, nenhuma criança ache que está errada por ser quem é ou amar quem ama.


A Bienal já se pronunciou, se recusando a impedir a venda de qualquer conteúdo, apesar da HQ em si ter se esgotado. Em resposta no começo da sexta-feira (06/09), a prefeitura mandou funcionários para regular e apreender conteúdo inapropriado na Bienal, ou melhor, CENSURAR. Mas afinal, que conteúdo inapropriado é esse que não passa de dois adolescentes apaixonados se beijando, tentando descobrir um jeito de viver uma relação saudável? É justamente o maior medo do prefeito Crivella e muitos como ele, jovens pensantes, que respeitem e aceitem diferenças. Na visão de pessoas como o prefeito do Rio e o presidente do Brasil, os jovens só devem aceitar o que é dito por governantes ignorantes e rancorosos.

 
 
 

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