Existe SIM um problema com o cartaz de X-Men: Apocalipse
- Pedro Lacerda
- 5 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2019

Eu queria ter falado disso alguns dias atrás, mas o medo de não saber abordar o assunto corretamente me preveniu, até que eu lembrei que foi justamente para falar de coisas como essa que o Macacos de Marte foi criado; então vamos ao assunto.
Não é de hoje que a discussão sobre sexismo, cultura do estupro e violência contra a mulher vem ganhando destaque, especialmente aqui no Brasil após o estupro da jovem de 16 anos no Rio de Janeiro. E por sua vez o reflexo mais recente dessa discussão no meio de entretenimento e cultura pop é a reação a imagem escolhida pela Fox para usar em um dos cartazes de X-Men: Apocalipse, que mostra o vilão titular do filme estrangulando a personagem de Jennifer Lawerence, Mística.
Antes de começar a falar sobre a minha opinião no assunto, é importante deixar algo claro: Violência contra a mulher é algo real, ao contrário do que tenho visto muitas pessoas argumentando. A partir do momento que uma mulher é perseguida, descriminada, ofendida e agredida pelo único e exclusivo fato de ser uma mulher, isso é violência focada em mulheres. E existe sim um estado de medo entre muitas das mulheres, porque para cada comentário dizendo que uma mulher ”mereceu ser estuprada”, ”tinha que apanhar mais” e afins, também existem diversos homens andando por aí que pensam essas coisas, sendo incentivados por uma sociedade que prefere negar seus problemas e usar de medidas que os escondam a destacá-los e resolvê-los.

Dito isso, eu não diria que X-Men: Apocalipse é um filme que faz apologia a favor da violência direcionada a mulheres, porém eu entendo como o cartaz usado é preocupante e até desrespeitoso. Qualquer pessoa que passar cinco minutos no Google vai notar que em nenhum dos outros cartazes do filme um homem aparece sendo fisicamente atacado, em nenhum dos cartazes ou pôsteres um homem aparece em uma posição vulnerável e de vítima como a escolhida para representar a Mística naquele cartaz. Isso não é um problema do filme, porque no filme a cena faz sentido, está dentro de um contexto, e muito provavelmente envolta de cenas nas quais a personagem não é uma vítima e lidera uma guerra contra o vilão. Mas o que não é o caso quando você passa de carro por uma avenida movimentada e essa imagem está em um outdoor gigante. Não é a história do filme que está sendo criticada (ao menos não por isso), mas sim como a Fox escolheu representar uma das personagens mais importantes do filme, como Hollywood costuma escolher como representar mulheres versus como escolhem representar homens.
Antes de acusar alguém de estar de ”mimimi”, por que não parar pra pensar sobre as escolhas feitas pelas equipes de marketing, e muitas vezes feitas por estúdios e cineastas na construção de um filme ou peça publicitária? Por que precisa ser uma mulher a única em posição de vítima, por que precisa ser um homem atacando? Não é que mulheres não possam ser vítimas em obra de ficção, é quando você escolhe a sua vítima por ser uma mulher, a presa fácil, indefesa, mesmo que subconscientemente. Liberdade criativa em uma obra não exclui a responsabilidade com os assuntos os quais você escolhe abordar. A banalização de coisas como cultura do estupro, violência focada em mulheres, etnias diferentes ou homossexuais nada mais é do que escrita preguiçosa, quando se escolhe abordar um tema desses o mínimo que se espera é cuidado e respeito.






Comentários