Black Lightning não é sobre um super-herói negro, mas sobre um homem negro que é um super-herói
- Pedro Lacerda
- 17 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2019

SEM SPOILERS: Tudo mencionado no texto foi mostrado em trailers.
Entre debates mais importantes sobre desigualdade e os ideais corrompidos da indústria do entretenimento, vez ou outra nos deparamos com o debate sobre a fadiga dos filmes de super-heróis. Toda semana algum veículo escreve uma matéria extensiva do porque os dias das séries e filmes de heróis estão contados, ou algum ator culpa o gênero pela falta de grandes produções originais e as exigências que os estúdios fazem de toda e qualquer bilheteria. E já faz um tempo que tenho pensado em dar minha opinião no assunto, mas com a estreia de Black Lightning na última terça-feira (16/01), a nova série heroica da CW apresentou o argumento perfeito do porque o tempo das grandes produções de super-heróis está apenas começando.
Black Lightning é mais uma produção de Greg Berlanti, o homem por trás de Arrow, The Flash, Supergirl e Legends of Tomorrow, mas diferente das três primeiras não é uma série sobre um super-herói lutando contra o crime. Black Lightning logo nos cinco primeiros minutos do seu piloto deixa claro que é uma série sobre um homem que quer cuidar da sua família, e para isso acaba tendo que vestir o manto de super-herói mais uma vez. Grande parte do problema com algumas produções de super-heróis é encarar o gênero como uma fórmula que não deve ser alterada, uma regra que BL jogou pela janela antes mesmo do primeiro roteiro ser escrito.
A série é comandada por Mara Brock Akil e Salim Akil, casal que construiu carreira produzindo séries que representam pessoas negras e de diferentes etnias de maneira mais fiel a realidade. E é disso que Black Lightning — uma série sobre super-herói que solta raios pelas mãos — é cheio, personagens que apesar dos superpoderes são pessoas reais, com problemas e motivações reais. Jefferson Pierce é um HOMEM NEGRO, o diretor de uma escola tentando manter a sua família unida e se esforçando pra ajudar crianças numa cidade cheia de crimes, policiais corruptos e mal preparados e muitas escolhas ruins e poucas boas. Todo o primeiro episódio gira em torno do tema de escolhas, as escolhas que Jefferson faz todo dia desde não usar seus poderes e colocar sua vida e família em risco depois de anos a beira da morte nas mãos de criminosos e da própria polícia. A escolha de abaixar a cabeça e não correr o risco de levar um tiro ao ser parado pela policia pela terceira vez no mesmo mês sem motivo algum além de ser um negro dirigindo um carro.

Então apesar de muita gente não entender a diferença, um dos maiores méritos de Black Lightning não é ser uma série sobre um herói negro, mas ser uma série sobre um homem negro, pai, marido e professor em uma comunidade negra cheia de problemas e belezas, que também é um super-herói. E felizmente a família Pierce ainda tem muito mais a oferecer além de um diretor escolar/super-herói de meia idade. Black Lightning é uma série sobre um homem negro, mas um homem negro que é pai de duas mulheres negras. Duas mulheres dinâmicas, multidimensionais (ou seja, você pode ser ter amigos, sair pra balada, ser um arraso de ser humano e ser inteligente, tirar boas notas, quem diria?) e fortes, porque você não precisa fazer uma personagem fraca pra criar desafios, crescimento e aprendizado. Personagens que além de lidar com o racismo diário, também lidam com o machismo e ego masculino frágil que acabam criando situações que infelizmente não existem só ficção.







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